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A nova escola em um novo normal

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Ivete Barros

Até o fim de 2019, planejava, ao lado de todo o corpo docente, como seria o ano letivo de 2020. Há mais de 30 anos como psicopedagoga e com experiência tanto no ensino público como no privado, tirava de letra o cronograma escolar para as turmas que atendo, no Educandário Jardim das Goiabeiras e também em uma escola municipal de Cuiabá.

Começamos 2020 e tudo ia bem. Até que no dia 11 de março, a Organização Mundial de Saúde (OMS) divulgou que um vírus originado em uma cidade até então desconhecida da China se alastrava mais rapidamente que o imaginado e o que vivíamos seria classificado como pandemia. Mas, até então, achávamos que este tal de ‘novo coronavírus’ ou COVID-19 não chegaria aqui e tão pouco seria uma ameaça real.

Menos de 15 dias após o anúncio da OMS, foi a vez de Mato Grosso começar a fechar escolas, shopping centers, comércio em geral e serviços não essenciais. Não apenas nosso cronograma escolar sofreu um pequeno colapso como também tive que reaprender, como se estivesse nos meus primeiros anos como psicopedagoga, como ensinar em meio a uma pandemia.

Em um primeiro momento, o pânico é natural. Em seguida, foi a hora de planejar novamente, agora sabendo que a escola nunca mais seria a mesma. Desde março, nosso trabalho como corpo docente de uma escola de ensino fundamental não parou.

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Adaptamos o modo de ensinar, com tarefas que os pais podiam pegar uma vez por semana, em um sistema de ‘drive thru’. Logo, começamos a perceber que a pandemia estaria longe do fim. Assim, o Educandário investiu em um software focado no ensino on-line. Tudo foi adaptado: tanto matérias tradicionais como português e matemática, como aulas de educação artística, sustentabilidade e nutrição.

Só neste mês de setembro, seis meses após o decreto de fechamento de tudo, é que voltamos, mas de uma forma completamente diferente. Os alunos não podem entrar com o calçado que vêm de casa, bem como há um maior distanciamento entre eles. Dispensadores de álcool em gel estão pela escolinha. O contato, tão importante para os pequenos, teve que sofrer mudanças e ser guardado para um outro momento, quando tudo isso passar.

Mas, será que tudo isso passará? A pandemia tem nos mostrado o quanto é importante a biossegurança, o quanto algo imprevisto mudou nossas vidas. Todos sofremos: pais, professores, diretores, alunos. Não, não é fácil. Mas é possível.

Ainda que no próximo ano contemos com uma vacina contra a COVID-19, não podemos deixar 2020 passar como um ano terrível. É preciso, como ensinamos na escola, tirar uma lição de tudo que vivemos. É preciso, portanto, aprender que colaboração, união e comprometimento para com o próximo são essenciais para mantermos um senso de comunidade, de sociedade.

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É só assim que poderemos ter este tão falado ‘novo normal’. Mas que ele seja com consciência coletiva, de que para termos uma vida de qualidade, precisamos respeitar uns aos outros.

*Ivete Barros é psicopedagoga em Cuiabá

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O Brasil sangra e a alma pesa

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Fotos: O Defensor Público Federal André Naves – Arquivo pessoal

Brasil: um país em que a esperança é o último refúgio e nunca morre. Apesar disso, a fé na justiça se desmonta cotidianamente em um violento jogo. A vala fria da desesperança sempre nos aguarda, como um abismo que desconcerta e atrai.

Os eventos que mancharam de sangue as comunidades do Rio de Janeiro, deixando um rastro de mortos que choca e entorpece a alma, não são apenas estatísticas frias de um confronto. São chagas de uma falha profunda, sistêmica, que se repete dolorosamente em nosso tecido social. E o mais cruel é perceber que, em meio a essa tragédia, muitos, com a melhor das intenções, acabam por celebrar a barbárie.

Há uma falácia perigosa que se alastra, como erva daninha no terreno fértil da indignação. A ilusão de que operações policiais desastradas, mal planejadas e focadas unicamente em “subir o morro” para um embate direto, resolverão o intrincado problema da criminalidade. É a crença ingênua, porém devastadora, de que a violência estatal, exercida de forma bruta e desmedida, é a resposta definitiva.

Esse é o ponto onde a boa intenção se desvia do caminho, pavimentando a estrada para o inferno da chacina, do extermínio, da injustiça. As ruas clamam por segurança, os corações clamam por paz, mas a forma como buscamos essa paz define se a encontraremos ou se afundaremos ainda mais no caos e na lama sangrenta.

Não se trata de negar a necessidade da presença do Estado, nem de romantizar a criminalidade. Longe disso. O Estado precisa e deve estar presente em cada recanto do território brasileiro, especialmente nas comunidades mais excluídas, nas periferias esquecidas, nos bolsões de vulnerabilidade. A questão fundamental é: como o Estado chega? Quando a única face que se mostra é a do fuzil, a do Caveirão, a da bala perdida e da vida massacrada, o que se constrói não é segurança, mas sim um ciclo vicioso de dor, vingança e deslegitimação de qualquer autoridade. O Estado, ao chegar apenas com a violência, fecha os olhos para o problema maior, para a raiz do mal que aniquila a nossa sociedade.

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É preciso ter a coragem de olhar para o espelho da realidade e questionar: onde está, de fato, a criminalidade que verdadeiramente desestabiliza o país, que corrompe as instituições e que tece a teia da impunidade? Não, ela não está predominantemente nas vielas estreitas das favelas, nos barracos humildes onde a vida pulsa com sacrifício e resistência. As lideranças do crime, do crime organizado em sua essência mais perversa, não se escondem nos becos da miséria, nas biqueiras sujas. Elas habitam os bairros nobres, os grandes centros financeiros das cidades, os suntuosos palácios políticos, as altas esferas do poder econômico.

Os exemplos são eloquentes e se erguem como monumentos à nossa cegueira coletiva. Lembremos da maior operação de apreensão de fuzis já realizada no Rio de Janeiro. Aconteceu onde? No asfalto, no Condomínio Vivendas da Barra. Foi uma operação de inteligência, meticulosamente planejada, que resultou na apreensão de um arsenal sem que uma única vida fosse perdida, sem que um único tiro fosse disparado. Contrastemos isso com a brutalidade das chacinas nas comunidades, onde dezenas de vidas são perdidas em embates sangrentos, gerando luto e revolta, mas raramente desmantelando as verdadeiras estruturas do crime.

Ou ainda, os quarenta bilhões de reais das organizações criminosas que foram descobertos e bloqueados em operações focadas em seguir o dinheiro, em desmantelar a lavagem e a corrupção em alta escala. Não na favela, mas nos centros financeiros, nos esconderijos de luxo que abrigam os verdadeiros operadores do crime.

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Percebam que uma série de leis e políticas são, por vezes, elaboradas não para combater o crime, mas para acobertá-lo, para expandir o sentimento de impunidade, para proteger interesses escusos. É nesse emaranhado de interesses que a verdadeira batalha contra o crime deve ser travada, com inteligência, estratégia e um compromisso inabalável com a ética e a legalidade.

A matemática da barbárie é cruel e implacável. Alguém realmente acredita que a criminalidade será enfrentada, de forma eficaz e duradoura, com extermínios em massa? A tragédia dos cento e vinte e cinco que, miseravelmente, faleceram ontem, já tem seu triste epílogo. Essas vidas, por mais que lamentemos sua perda, já foram substituídas pelas engrenagens frias e implacáveis do tráfico de drogas e do crime organizado. A lógica perversa do crime não para. Ela se realimenta da miséria, da exclusão, da ausência do Estado. Para cada vida destruída na favela, há outras cem esperando a oportunidade para serem cooptadas por um sistema que se aproveita da desesperança.

O verdadeiro combate à criminalidade passa por desatar esses complexos nós. É preciso seguir o dinheiro, as rotas do armamento, as redes de corrupção que permitem a existência e a expansão dessas organizações criminosas. É preciso uma inteligência de Estado robusta, despolitizada, apartidária, que trabalhe em conjunto, articulando as forças de segurança de todos os entes federativos — Estados e governo federal — em uma estratégia coesa e de longo prazo.

Mas, acima de tudo, o Estado precisa chegar nas comunidades com a sua face mais humana, mais essencial: a da Cidadania. É lá, onde a ausência do Estado é mais sentida, que ele precisa se manifestar com serviços públicos de qualidade. Educação que abre portas para o futuro, saúde que cuida da vida, saneamento básico que garante dignidade, coleta de lixo e zeladoria que demonstram respeito, cultura que enriquece a alma, oportunidades de trabalho que resgatam a esperança.

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É nesse solo fértil de direitos que se planta a verdadeira segurança. É lá que se constrói uma barreira intransponível contra a coação do crime.

Os Direitos Humanos não são um obstáculo ao combate à criminalidade; são a bússola que nos impede de nos perdermos na escuridão da violência. Direitos Humanos de verdade significam que a vida importa, que a justiça importa, que a dignidade de cada indivíduo importa, independentemente de sua origem, cor ou condição social. Significa que o Estado tem o dever de proteger seus cidadãos, e não de exterminá-los em operações desastradas.

É tempo de olharmos para onde o crime realmente está e levarmos, sim, condições de vida para a favela, para as comunidades. Condições de vida, não condições de morte. Condições de florescer, não de definhar. A criminalidade será enfrentada não com extermínio, mas com a construção incansável de uma sociedade mais justa, mais igualitária e, sobretudo, mais humana. O grito que ecoa das comunidades não é um pedido de trégua, mas um clamor por uma vida digna, por um Estado presente, protetor e que garanta a todos o direito fundamental de existir.

*André Naves é Defensor Público Federal formado em Direito pela USP, especialista em Direitos Humanos e Inclusão Social; mestre em Economia Política pela PUC/SP; Cientista Político pela Hillsdale College e doutor em Economia pela Princeton University. Comendador Cultural, Escritor e Professor (Instagram: @andrenaves.def).

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A importância da formação política e os reflexos da polarização ideológica

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Por Deputado Estadual Wilson Santos

Tenho uma trajetória de 40 anos na política, onde vivi várias situações e ganhei experiências. E, como diz o ditado, a política é igual nuvem: muda de posição o tempo todo. Nessa minha caminhada, sempre mostrei de forma transparente que a minha prioridade é o povo. Se não fosse o povo, eu não estaria neste meio até os dias atuais. Hoje, são poucos os políticos que tiveram a oportunidade de fazer parte de uma formação política, de um movimento sindical ou estudantil. Eu, por exemplo, comecei na política dentro do movimento estudantil entre os anos de 1979 e 1981, na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).

Com essa minha introdução, resgato as minhas origens políticas e reflito sobre a importância da formação política como base para o fortalecimento da democracia e o equilíbrio entre esquerda e direita. Para mim, a ausência dessa formação tem produzido gerações de parlamentares e lideranças despreparadas para o exercício da função pública. Sem contar que os partidos deixaram de fazer formação política. São muito raros os que ainda prestam esse serviço à sociedade.

Dificilmente um jovem que queira entrar na política vai encontrar uma agremiação que ofereça capacitação, qualificação e conhecimento político. O movimento sindical enfraqueceu muito, principalmente após o fim da obrigatoriedade da contribuição sindical. Já, o movimento estudantil também se fragilizou. Houve um enfraquecimento generalizado das áreas de formação política.

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A inexistência de formação política leva à chegada ao Parlamento de gente muito despreparada para o exercício da função. Muitos não conhecem o Regimento Interno, não sabem o que é uma Lei Orgânica, não leem a Constituição Estadual e, muito menos, a Federal. Quando não há formação política, o resultado é um ambiente degradado, onde vemos desrespeito, ataques e palavras de baixo calão, o que gera verdadeiras sessões de horror.

Esse cenário praticamente se associa ao processo de polarização ideológica que marca o Brasil e o mundo contemporâneo. A discussão entre esquerda e direita perdeu profundidade e se tornou meramente emocional e superficial. Se você fizer duas perguntas sobre o que é ser de esquerda ou de direita, poucos conseguem responder. Essa polarização é consequência da ausência de formação política. Hoje, há políticos que só se identificam com causas momentâneas, se destacando mais pelo uso das redes sociais do que por uma atuação consistente.

Ao analisar o contexto histórico, destaco que o enfraquecimento da esquerda também contribuiu para a ascensão de novos movimentos de direita. Isso porque, a esquerda não entregou todos os resultados que a sociedade esperava. Seus discursos eram veementes, emocionavam, mas parte das promessas não foram cumpridas. Isso abriu espaço para o retorno da direita com força total. Eu fui colega do ex-deputado federal e ex-presidente da República, Jair Bolsonaro, por seis anos na Câmara Federal e, sinceramente, foi uma enorme surpresa vê-lo chegar à presidência. Essa ocupação do espaço político se deu por pessoas alheias à formação ideológica e ao preparo técnico, resultado direto da insatisfação com os governos anteriores.

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Pondero que nenhum grupo político, de esquerda ou direita, resolverá sozinho os desafios do país, dada a complexidade e as raízes históricas e estruturais dos problemas brasileiros. São questões culturais, estruturais, que não se resolvem em uma ou duas décadas. Esse conjunto de fatores trouxe o ambiente radicalizado e emocionalizado que vivemos hoje.

Apesar da minha postura crítica à esquerda, reforço que não me enquadro rigidamente em rótulos ideológicos. Nunca fui do PT. Aliás, se teve alguém que mais enfrentou o PT em Cuiabá, fui eu. Mas eu tenho um olhar equilibrado sobre os temas. Quando se fala em mercado livre – sou direita, reforma agrária – sou esquerda, ocupação de terras por falta de políticas habitacionais – sou esquerda ou políticas sociais – como o aborto – sou contra e sou direita, cada assunto precisa ser analisado com racionalidade. Na verdade, me considero um social-democrata. A ideologia associada à democracia foi o que transformou o Ocidente Europeu na melhor região do mundo em qualidade de vida. A democracia é o que dá equilíbrio entre os extremos.

Para concluir, reafirmo que a democracia é o valor central que deve orientar qualquer projeto político, independentemente de posições ideológicas. Sou um democrata, acredito que a formação política, o diálogo e o respeito às diferenças são os caminhos para que o Brasil avance, superando radicalismos e reconstruindo a confiança entre a classe política e o povo.

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Educação inclusiva: PL sobre autismo avança no Congresso e destaca a formação de professores com base científica

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*Luciana Brites, Mestre e Doutoranda em Distúrbios do Desenvolvimento

A Comissão de Educação da Câmara dos Deputados aprovou, recentemente, o Projeto de Lei 2163/2025, de autoria da deputada Carla Dickson (UNIÃO/RN), relatado pela Comissão de educação e aprovado pelo deputado Diego Garcia (Republicanos/PR). A PL estabelece diretrizes para a formação continuada de professores da rede pública de ensino em práticas pedagógicas baseadas em evidências científicas. O foco central do projeto é o atendimento educacional especializado para estudantes com Transtorno do Espectro Autista (TEA).

Trata-se de um marco importante para a educação inclusiva no Brasil, pois alinha a formação docente às melhores práticas comprovadas pela ciência. Será o fim dos achismos e uma vitória da ciência. Com isso, os pais e professores terão segurança de que as crianças terão acesso a metodologias que a ciência já comprovou que funcionam, garantindo resultados com mais eficácia e menos sofrimento no aprendizado.

Na prática, isso significa que os professores terão acesso a capacitações mais eficazes. Portanto, vão gerar resultados concretos na aprendizagem e no desenvolvimento dos estudantes. Logo, a lei garante inclusão de verdade e educação de qualidade ajudando os professores a possuírem ferramentas certas para desenvolver o pleno potencial de seus alunos em sala.

Formar educadores com base em evidências é essencial. Quando os professores recebem esse suporte, tornam-se mais preparados para compreender as dificuldades de cada criança e elaborar estratégias de ensino verdadeiramente inclusivas. Trata-se não apenas de aprimorar a prática docente, mas também de garantir direitos fundamentais aos estudantes com autismo.

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Vale lembrar que os alunos atípicos ensinam muito aos professores, ajudando-os a se tornarem melhores profissionais. A inclusão possibilita que os docentes aprendam a ensinar todas as crianças, respeitando seus diferentes ritmos e formas de aprender. O grande desafio está justamente em entender como o aprendizado acontece para encontrar o melhor caminho de ensino para cada um.

Com a formação adequada, os estudantes terão mais oportunidades de aprendizagem significativa, acesso a práticas pedagógicas realmente eficazes e melhores condições para desenvolver todo o seu potencial.

O projeto segue em análise na Comissão de Defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência. A expectativa é que avance no Congresso, consolidando assim, um passo significativo para que a inclusão escolar seja feita com mais preparo, responsabilidade e respaldo científico.

Essa proposta gera mudança de paradigma na formação docente, pois reforça a ideia de que todo estudante tem direito a uma educação de qualidade. Esse é um grande avanço para a educação brasileira.

(*) Luciana Brites é CEO do Instituto NeuroSaber, psicopedagoga, psicomotricista, mestre e doutoranda em distúrbios do desenvolvimento pelo Mackenzie, palestrante e autora de livros sobre educação e transtornos de aprendizagem. Instituto NeuroSaber  https://institutoneurosaber.com.br

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