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Democracia Seletiva ou Hipocrisia Velada? O Discurso que Ecoa em Rondonópolis

Ilson Galdino, advogado e servidor-público municipal
No Brasil atual, a palavra democracia parece ter se tornado uma peça de vitrine? Todos a exibem com orgulho, mas, na prática, poucos a defendem em sua essência. Esse foi o tom do discurso da Vereadora Dra. Luciana Horta na última sessão da Câmara Municipal de Rondonópolis, quarta-feira (24), um pronunciamento que não citou nomes, mas lançou luz sobre comportamentos que colocam em xeque a coerência de quem se proclama guardião da fé, da moral e dos bons costumes.
Com uma fala firme, a Vereadora criticou o que chamou de “democracia seletiva”. Segundo ela, muitos defendem a liberdade de expressão apenas quando lhes convém. “Se é para elogiar, está liberado; se é para criticar, vem a censura disfarçada de ordem moral”, pontuou.
O discurso ganha peso quando toca em um ponto delicado; a contradição de setores que se apresentam como conservadores e cristãos, mas que se alinham à lógica da censura digital. “Parece que trocaram a Bíblia pela cartilha da censura”, disse Luciana, lembrando que a mensagem de Jesus nunca foi a da coerção, mas a do convencimento pelo amor e pela verdade.
Essa fala não é contra a fé, a religião e nem contra a moralidade, ao contrário. O que a Vereadora propõe é reflexão; que democracia é essa que se incomoda até com uma curtida em rede social? O que há de tão ameaçador em um comentário ou numa opinião divergente? Para ela, a verdade incomoda porque desnuda narrativas construídas na base da intimidação.
Na prática, o que a Vereadora enfrenta hoje não é fruto apenas de divergências ideológicas.
A explicação posterior, feita por apoiadores da parlamentar, reforça a tese, os algozes de Dra. Luciana não são opositores políticos tradicionais da esquerda ou do centro, mas sim aqueles que, escondidos atrás de símbolos como “Deus, Pátria e Família”, manipulam uma massa desinformada. Usam religião e conservadorismo como ferramentas políticas, transformando valores em armas de silenciamento.
Mas é preciso entender o peso histórico desse lema. “Deus, Pátria e Família” não nasceram como um símbolo inofensivo. Sua origem remonta a movimentos autoritários do século XX, como o integralismo brasileiro inspirado no fascismo europeu, que usava essa tríade para legitimar perseguições políticas, censura e controle social. Hoje, em vários países, o extremismo de direita resgata essa mesma bandeira para mobilizar massas, dos Estados Unidos à Hungria, da Polônia ao Brasil. O crescimento desse extremismo está ligado à crise de representatividade, à disseminação da desinformação digital e ao uso da religião como sustentáculo ideológico.
No Brasil, milhões de pessoas, muitas vezes de boa-fé, abraçaram esse discurso sem perceber o seu viés autoritário. É uma realidade que a própria Vereadora, em seu discurso, também parece ter enxergado em toda a sua complexidade, a de que, por trás da retórica moral e religiosa, esconde-se uma engrenagem política tenebrosa, capaz de travestir interesses de poder com a máscara da fé, da liberdade e da família.
O extremismo, segundo essa leitura, serve como mecanismo de controle social, travestido de moral e bons costumes. A liberdade de expressão é evocada como bandeira, mas apenas para legitimar narrativas convenientes.
O que está em jogo, afinal, não são nomes, mas condutas. O recado é claro, democracia não é seletiva, nem pode ser refém de narrativas convenientes. Ela se fortalece justamente quando há espaço para o contraditório, para a voz do povo e para a verdade que não se cala.
Como bem disse a Vereadora: “Isso não é democracia, isso é hipocrisia.”

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Avanços em bioproteção impulsionam sustentabilidade no campo

Foto: Fabiano Bastos
No dia 23 de setembro, o mundo celebra o Dia da Bioproteção (Bioprotection Day), uma data criada para chamar a atenção para o papel estratégico do controle biológico e do uso de bioinsumos na construção de uma agricultura mais sustentável. A iniciativa é fruto de uma parceria entre a Embrapa Soja (PR) e o CABI – Centre for Agricultural Bioscience International, com o objetivo de sensibilizar produtores, técnicos e pesquisadores sobre o potencial dessas tecnologias, além de difundir informações sobre seu uso correto e eficiente.
Em 2025, a Embrapa Cerrados comemora 50 anos de contribuição à ciência agropecuária brasileira, e sua história se confunde com a evolução do controle biológico no país. A Unidade iniciou suas pesquisas na área em 1980, com estudos sobre o uso do fungo Metarhizium anisopliae para o controle de cigarrinha-das-pastagens – pragas que causavam grandes prejuízos à pecuária. Entre 1981 e 1984, os primeiros experimentos em larga escala foram conduzidos no Distrito Federal, Goiás e norte de Minas Gerais, com aplicação terrestre e aérea do bioinseticida.
A partir de 1984, os pesquisadores passaram a estudar as condições climáticas ideais para maximizar a eficácia do controle biológico, garantindo que os fungos pudessem causar epizootias no campo. A cooperação internacional também marcou a trajetória da Unidade: de 1988 a 1992, em parceria com a Japan International Cooperation Agency (JICA), foram realizados trabalhos com parasitoides de ovos de percevejos da soja, como Trissolcus mitsukurii e T. basalis.
Nos anos seguintes, a pesquisa avançou para o desenvolvimento de formulações mais eficientes de fungos entomopatogênicos e tecnologias de aplicação que aumentassem a sua persistência no ambiente. Entre 2001 e 2003, por exemplo, estudos com o fungo Sporothrix insectorum atingiram níveis de controle superiores a 90% contra o percevejo-de-renda-da seringueira (Leptopharsa heveae).
Desde 2008, a equipe da Embrapa Cerrados atua em projetos com usinas de cana-de-açúcar no Cerrado, visando o controle biológico de pragas como a cigarrinha-da-raiz (Mahanarva spp.) e o bicudo-da-cana (Sphenophorus levis), com resultados altamente positivos. Nesse período, foi desenvolvida também uma isca biológica à base de Beauveria bassiana para o manejo de formigas-cortadeiras.
Outra contribuição relevante foi a publicação, em 2010, de um manual técnico sobre produção massal e aplicação de fungos entomopatogênicos, que serve como referência para diversas biofábricas no Brasil. Mais recentemente, a Unidade tem investido em pesquisas com vespinhas do gênero Trichogramma, parasitoides de ovos de lepidópteros e outros insetos sugadores, como a cigarrinha-do-milho – pragas de grande impacto para a agricultura brasileira.
Ciência para o futuro da agricultura
Há cinco décadas, a Embrapa Cerrados vem construindo uma trajetória marcada por pesquisa e inovação para o bioma Cerrado. A Unidade foi pioneira em estudos de controle biológico e continua ampliando o uso de bioproteção como estratégia para reduzir defensivos químicos, diminuir custos de produção e preservar o meio ambiente. Essas ações dialogam diretamente com as metas globais de descarbonização e com a necessidade de sistemas agrícolas mais sustentáveis.
Celebrar o Dia da Bioproteção é, portanto, reconhecer o papel da ciência brasileira na transformação do conhecimento em soluções acessíveis para agricultores de todos os portes. Em 2025, ano em que completa 50 anos, a Embrapa Cerrados reafirma seu compromisso de seguir inovando, desenvolvendo tecnologias que integrem produtividade, saúde do solo e conservação dos recursos naturais, preparando a agricultura para os desafios do futuro.
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Tratamentos fora do rol: o que a recente decisão do STF muda para beneficiários e operadoras

Por Jorge Jaudy
O Supremo Tribunal Federal concluiu, no dia 18 de setembro, o julgamento da ADI 7.265 e fixou um marco relevante para a saúde suplementar no Brasil. Por maioria de 7 votos a 4, a Corte decidiu que os planos de saúde só estão obrigados a cobrir tratamentos não previstos no rol da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) quando forem atendidos, cumulativamente, cinco requisitos técnicos: (i) prescrição por médico ou dentista responsável; (ii) inexistência de negativa expressa ou de pendência de análise pela ANS; (iii) ausência de alternativa terapêutica adequada no rol; (iv) comprovação científica robusta de eficácia e segurança; e (v) registro do tratamento ou medicamento na Anvisa.
Na prática, a decisão estabelece um filtro objetivo para situações em que tratamentos inovadores ou não incorporados ao rol tenham cobertura obrigatória. Não se trata de negar acesso a novas terapias, mas de organizar critérios e trazer mais previsibilidade para beneficiários, operadoras e para o próprio Judiciário.
Essa definição vem em boa hora. Nos últimos anos, o tema gerou enorme insegurança jurídica. O rol da ANS, que nasceu como referência mínima obrigatória baseada em evidências científicas e critérios de custo-efetividade, passou a ser frequentemente relativizado por decisões judiciais que determinavam coberturas muito além do previsto. Muitas vezes, decisões judiciais se apoiavam unicamente na prescrição individual do médico, sem considerar avaliações técnicas complementares ou evidências científicas consolidadas. O resultado foi o aumento dos custos, o desequilíbrio do sistema, a insegurança dos beneficiários e uma judicialização crescente, cada vez mais difícil de sustentar.
Ao condicionar a cobertura fora do rol a cinco critérios cumulativos, o Supremo reduziu o espaço para decisões casuísticas e reforçou a importância da medicina baseada em evidências. Mais do que isso: alinhou o setor privado à lógica já aplicada pela própria Corte em julgamentos sobre fornecimento de medicamentos pelo SUS, nos quais se exige parâmetros técnicos claros para evitar abusos. Esse conjunto de exigências traz ganhos de equilíbrio para todos os envolvidos — pacientes, operadoras, prestadores e profissionais de saúde.
Como advogado atuante na área, tenho acompanhado situações em que magistrados, movidos pela legítima preocupação em atender o paciente, determinaram a cobertura de tratamentos ainda sem comprovação científica robusta e com custos muito superiores às alternativas já previstas no rol da ANS. Essa postura revela sensibilidade diante do sofrimento humano, mas também evidencia a importância de critérios objetivos que permitam equilibrar as decisões, garantindo a sustentabilidade do sistema e a preservação do mutualismo, essencial para a proteção da coletividade.
Outro ponto relevante é que o Supremo deixou claro que o Judiciário não deve ser a primeira instância para essas discussões. O beneficiário precisa antes formalizar o pedido à operadora e comprovar negativa injustificada, demora excessiva ou omissão. Além disso, os juízes deverão recorrer a pareceres técnicos de órgãos especializados, como o NATJUS (Núcleo de Apoio Técnico do Judiciário), e não decidir apenas com base em relatórios médicos individuais. Isso ajuda a evitar decisões desconectadas da regulação e garante o equilíbrio e a sustentabilidade do sistema.
A decisão do STF não fecha portas. Pelo contrário, abre caminho para que inovações e tratamentos modernos possam ser incorporados, desde que com respaldo em ciência, avaliação técnica e dentro de um processo regulado e transparente. O julgamento da ADI 7.265, ao estabelecer critérios claros, fortalece a segurança jurídica, protege os beneficiários de terapias ineficazes e assegura às operadoras condições mínimas de previsibilidade.
Do ponto de vista de quem atua diariamente na área, acompanhando tanto disputas judiciais quanto a construção de soluções regulatórias, fica evidente que o equilíbrio é a chave. É preciso conciliar a sensibilidade diante do sofrimento individual com a responsabilidade coletiva de manter viável um sistema que hoje atende mais de 52 milhões de brasileiros. Ao fixar parâmetros objetivos, o Supremo contribui para esse equilíbrio e aponta o caminho para uma saúde suplementar mais justa, sustentável e segura para todos.
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Entre Libertadores e Traidores O Futuro Político de Bolsonaro e Tarcísio

Ilson Galdino, advogado e servidor-público municipal
O cenário político brasileiro começa a se reorganizar em torno de uma questão central, qual será o papel de Jair Bolsonaro nas eleições presidenciais de 2026? A resposta não é simples, porque vai muito além das disputas jurídicas que envolvem o ex-presidente.
O que está em jogo, nos bastidores, é um projeto de poder que pode afastá-lo do protagonismo e, ao mesmo tempo, usar sua popularidade como ativo político. E, nesse jogo de poder, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, desponta como peça-chave, mas não necessariamente como aliado leal.
Você já percebeu como, em política, os maiores inimigos muitas vezes surgem de onde menos se espera? Pois é exatamente esse enredo que se desenha em torno de Bolsonaro.
Carlos e Eduardo Bolsonaro, além de Silas Malafaia apontado como mentor do clã, alertam para manobras de bastidores e, cresce a percepção de que não é apenas a esquerda que quer enfraquecer Bolsonaro. Há, também, um esforço dentro do próprio campo conservador para reduzir seu protagonismo.
O centrão estaria costurando uma saída estratégica; oferecer anistia a Bolsonaro, que já não seria mais ampla e irrestrita, em troca de sua renúncia tácita à disputa presidencial.
E quem aparece como beneficiário direto desse arranjo? Tarcísio de Freitas. O governador paulista, visto por muitos como sucessor natural, vem sendo apontado por aliados do bolsonarismo raiz como o principal articulador ou, ao menos, como quem mais se favoreceria desse movimento.
A lógica é cruel, libertar Bolsonaro juridicamente, mas mantê-lo fora da corrida eleitoral, usando sua popularidade apenas como cabo eleitoral. Dessa forma, governadores, líderes do centrão e figuras políticas poderiam se apresentar como os libertadores de Bolsonaro, explorando a gratidão de sua base sem, no entanto, permitir que ele retorne de fato ao jogo.
Essa articulação explicaria a aproximação crescente de governadores a Bolsonaro, não para fortalecê-lo como candidato, mas para controlá-lo como símbolo. Aqui, a analogia com o boneco João-Bobo é inevitável, quanto mais empurrado, mais ele volta à posição inicial.
Nesse caso, a estratégia não é derrubá-lo de vez, mas mantê-lo em pé apenas o suficiente para servir de peça de conveniência no tabuleiro político, utilizá-lo como ativo eleitoral para ungir um nome considerado mais palatável pelo sistema possivelmente Tarcísio. Assim, pacifica-se o ambiente, reorganiza-se o campo conservador e canaliza-se o voto bolsonarista, mas sem o protagonista na urna.
O dilema é claro, de um lado, a tentativa de enquadrar Bolsonaro como peça secundária; de outro, sua própria recusa em abdicar do protagonismo. Entre essas forças, Tarcísio precisará decidir se será apenas um herdeiro pragmático ou se se arriscará a ser visto como traidor por uma base que não perdoa desvios de lealdade.
Não é segredo que o bolsonarismo raiz não perdoa desvios. Qualquer percepção de que Tarcísio está se beneficiando da “desativação” de Bolsonaro pode transformar seu trunfo em fardo.
O discurso que se desenha nos bastidores é duplo, de um lado, políticos que desejam se apresentar como os libertadores de Bolsonaro; de outro, a leitura de que essa libertação é, na prática, uma traição calculada, que o afasta das urnas e o transforma em mero cabo eleitoral.
Essa disputa não é inédita na política brasileira, líderes carismáticos já foram afastados da corrida e usados como símbolos para legitimar sucessores. A diferença, agora, está na intensidade da polarização e na dependência visceral que a direita tem da base bolsonarista.
Para quem acompanha a política, o alerta é claro, não se trata apenas de acompanhar discursos inflamados ou bravatas. O que está em jogo é um projeto de poder que tenta reconfigurar a direita brasileira, deslocando Bolsonaro para os bastidores e preparando Tarcísio como herdeiro controlado de seu capital político.
O leitor atento precisa, portanto, questionar; quem realmente está ao lado de Bolsonaro? E, mais do que isso, até onde o ex-presidente conseguirá resistir às tentativas de transformá-lo em personagem secundário da própria história, ou seja, como peça de conveniência?
A grande questão, portanto, não é apenas se Bolsonaro terá anistia, mas se terá autonomia política. O ex-presidente aceita ser símbolo ou insistirá em ser protagonista?
Tarcísio terá habilidade para herdar sem trair, ou cairá na armadilha de parecer cúmplice de uma manobra que reduz Bolsonaro a um João-Bobo?
A política brasileira é um tabuleiro em constante movimento. Hoje, a narrativa vendida é a da anistia libertadora; amanhã, pode ser a de traição estratégica.
Nos próximos meses, o país vai assistir a uma disputa que não se dará apenas nas urnas ou nos tribunais, mas também nos bastidores da direita. Entre alianças calculadas e discursos de fidelidade, a grande questão permanece quem controlará o capital político de Bolsonaro em 2026; ele próprio ou aqueles que querem transformá-lo em peça decorativa de conveniência?
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